Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Nível de agua do rio Paraguai no último fim de semana atingiu a pior marca dos últimos 50 anos




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A alegria e a receptividade do povo cacerense se transformou em tristeza nos últimos dias. Na última sexta-feira (27), o rio Paraguai, que margeia a cidade com as baias das Pombas e da Palha, atingiu sua pior marca em 50 anos. A régua que mede o nível do rio, exatamente em frente à Agência Fluvial da Marinha, marcava 35 centímetros de lâmina d’água, asituação é de assustar mesmo.

Difícil imaginar que a cidade que já recebeu milhares de turistas do mundo todo no maior festival de pesca do planeta, agora sofra com uma estiagem desse tamanho. Prejuízos incalculáveis para a flora e à fauna locais, além do turismo que já amarga o desaparecimento de uma clientela, antes fiel.

O maior exemplo disso pode ser visto na Baía das Pombas, onde pelo menos 12 grandes Chalanas estão atracadas desde o mês de julho, sem sair do lugar, devido o baixo nível do rio. Embarcações superequipadas, com apartamentos com ar-condicionado, freezers, televisão, entre outras mordomias, estão à moscas.

“Nunca vi o rio tão baixo assim, e olha que eu nasci e cresci aqui”, lamenta Domingo Alves, pescador profissional, que, a bordo de uma pequena canoa, com motor de popa (voadeira), é obrigado a se deslocar por mais de 5 horas até o rio Sepotuba - importante afluente da Bacia do Paraguai - para tentar fisgar as espécies que lhe garantirão o sustento. Com ele, além da traia completa e uma garrafa de café, um isopor com 6 barras de gelo, que ele espera voltar recheado.

De vara de bambu na mão, o paranaense José Diucilei também se revela espantado com a seca, nunca antes vista. “Estou há pouco tempo aqui, mas o suficiente para perceber que isso é um estrago sem tamanho. Deus cria, o homem mata”, lamenta o pescador, já aposentado. Dono de uma daquelas chalanas ‘encalhadas’, Alonso da Silva Lara tem uma tese: segundo ele, o nível do Paraguai tem baixado ano após ano, devido ações do homem, que estão influenciando diretamente no meio ambiente.

“O rio tem curvas para dosar a velocidade de sua correnteza e a quantidade de água que por ele passa. Quando você encurta esse caminho a água desce mais rápido e acontece isso. Foi isso que fizeram aqui. Abriram um canal e a vazante levou tudo”, denuncia o empresário. Comandante da Marinha, na Região o Capitão tenente Sales, recém-chegado do Rio de Janeiro, lamenta as cenas e alerta sobre os perigos de se navegar sob estas condições.

“Não tivemos nenhum acidente, mas o rio está muito perigoso. Surgiram muitos bancos de areia e quem não conhece os segredos, os locais exatos onde passar, pode sim sofrer algum tipo de acidente. Por isso, estamos com uma equipe de plantão, orientando todos aqueles que descem o rio, a passeio ou a trabalho”, alertou o comandante.

A poucos metros dele, 4 marinheiros embarcados orientavam todos que saíam pela Baía das Pombas, inclusive sendo obrigados a medir a profundidade com o remo, antes de correr o risco de sanificar a hélice. Nesse ponto, próximo á Sematur (Secretaria de Turismo do Município), onde há uma grande faixa de areia e uma bela Praia, é possível atravessar o rio a pé, com a água a altura do tornozelo.

Construída na década de 50 e inaugurada em 1962, a ponte Marechal Rondon é considerada um dos cartões de visita de Cáceres. Com 300 metros de extensão por 10m de largura, ela une as rodovias federais 070 (Cuiabá-Cáceres) e 174 (Cáceres-Rondônia). Com a ajuda do piloteiro mais experiente da região, conhecido como Tonho, saímos do centro de Cáceres em direção à ponte para ver uma imagem impressionante. O nível do rio está tão baixo sob a estrutura, que todas os pilares de fundação estão a mostra. Foi nesse ponto que descemos do barco e ficamos em pé, no meio do rio, com a água abaixo da canela, sobre um grande banco de areia.

Próximo à ponte, a estação de captação da Águas Pantanal trabalha sem parar para tentar abastecer as casas dos 100 mil habitantes, mas em pelo menos 7 bairros já há racionamento. Mais abaixo, uma draga tenta em vão desassorear o leito do rio para as embarcações passarem.

A prefeitura de Cáceres, Eliene Liberato Dias, está preocupada com a situação. A cidade só possui 4 caminhões pipa e conseguiu locar apenas mais dois para atender às comunidades mais afetadas. Na quarta e quinta-feira (25 e 26/8), ela determinou que a Secretaria de Saneamento e Meio Ambiente, em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), realizasse uma visita às Baías da Palha e das Pombas, para averiguar de perto os prejuízos causados pelas queimadas. 

O secretário de Saneamento e Meio Ambiente, Júlio Parreira, disse que recebeu um telefonema dos moradores pedindo ajuda. “Nós fomos até o local com a equipe técnica da prefeitura e da Sema, confirmamos que o fogo começou nas ilhas e logo depois pulou para encosta do rio, tiramos fotos, constatamos o local e abrimos um inquérito para analisar qual a causa e o responsável pelo incêndio”, informou Parreira.

A prefeita fez um apelo aos moradores. “Nós sabemos que estamos vivendo um período de estiagem, enfrentando uma crise hídrica, peço a nossa população que gosta de acampar, tomar banho de rio, muito cuidado para não deixar lixo nos acampamentos, se possível não acender fogo, qualquer fagulha pode ocasionar uma tragédia. Vamos cuidar da nossa fauna e flora, que é o maior patrimônio de Cáceres”.

Devido a essa queimada a que Liberatto se refere, uma onça foi vista as margens do rio, com um filhote, provavelmente fugindo das chamas. A esperança da prefeita, dos pescadores e do comércio local, é que em 2022 o famoso FIP (Festival internacional de Pesca) possa ser retomado. Ele havia sido suspenso, antes mesmo da pandemia, devido o baixo nível do rio.


Autor:Redação AMZ Noticias


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